13 de setembro de 2010

O gémeo falso


Aparentemente, para Gonçalo Portocarrero de Almada (GPA), tudo vale em nome da homofobia. A página 37 do Público de hoje, onde diz falar de “Filhos sem mãe”, é prova disso.
O vice-presidente CNAF usa até (pasme-se) “ingredientes” da luta de classes na sua excitação da irracional fobia a tudo o que escapa ao preconceito da “heteronormalidade”.
Começa assim: ‘“Eu e o David estamos à espera de gémeos. Esperamos que a imprensa respeite a nossa privacidade”- eis a declaração pública de Neil Patrick Harris, protagonista da série televisiva How I met your mother e, segundo as mesmas fontes, “corajoso” “homossexual assumido”’.

O começo não é nada inocente, GPA pretende transformar este caso particular numa caricatura. Reconhece que tanto casais heterossexuais adoptantes (e presumo que isso inclui os que são inférteis) como um homem ou uma mulher (mas nunca um par de pessoas do mesmo sexo) podem ser pai e mãe, ou único pai ou única mãe das crianças adoptadas. Mas haver dois pais ou duas mães.... para GPA, isso é que não.
E qual a justificação de tamanha sentença contra os casais de pessoas do mesmo sexo? Qual a razão de tal suposto castigo divino? Diz GPA: ‘Uma segunda “mãe” não substitui um pai, como um segundo “pai” não supre a ausência materna’.
Resta saber: Quando há só uma mãe, o vazio “substitui um pai”? Quando existe só um pai, o vazio “supre a ausência materna”? E, mais que isso, quem quer substituir o quê?
GPA terá certamente uma resposta, mas preferiu guardá-la, como bom filósofo que é. Em lugar de respostas a tais perguntas, o filósofo dedicou-se a multiplicar disparates e a levantar poeira:
“A que título serão acolhidos, por Neil e pelo seu amigo David, estes dois gémeos? Tudo leva a crer que mais não são do que um complemento da sua sui generis união, infecunda por natureza, de que não são a continuação, mas um artificial apêndice. Obtido, talvez, através de uma “proletária”, ou seja uma mulher anónima cuja maternidade fica reduzida à procriação da “prole”, que depois enjeita em benefício de terceiros”
GPA instrumentaliza e deturpa, como é próprio da ideologia da extrema-direita, o antagonismo de classes. Para clarificar, pergunta-se ao filósofo GPA: uma “barrigas de aluguer” é, necessariamente, menos “mãe” e menos “proletária” quando o casal que espera a criança é heterossexual?
Caro GPA, olhe que essa confusão ilógica é indigna do rigor filosófico. Aliás, GPA, V.Exa. não é só filósofo, é também jurista… pior ainda. Não sei se quando estudava (na licenciatura e no doutoramento) era assim tão baralhado ou se guardou sempre a “baralhação” discursiva para confundir o próximo. Certo é que tem muitos pergaminhos. Mas nenhum deles lhe dá o direito de insinuar publicamente que aquele, ou outro casal, quer ter filhos por capricho. Deixe ficar isso para os comentadores de revistas cor-de-rosa: esses estão na profissão certa e estão conscientes de que trabalham apenas para o entretenimento e não para a salvação das almas.
Gonçalo Portocarrero de Almada é um de três gémeos. Felizmente tem duas irmãs e, por essa razão, podemos ficar certos de que se trata do gémeo falso.

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