18 de abril de 2011

Estudantes e precários/as

A precariedade, e a luta contra a precariedade, continua a ter o trabalho como centralidade. Só por esse motivo já faz tanto sentido que os e as estudantes se juntem ao MayDay: é de presente e futuro que falamos e por que nos juntamos, e faz tanto sentido os e as estudantes juntarem-se para lutar pelos direitos dos trabalhadores, das trabalhadores e dos e das desempregado/as que também já foram estudantes e hoje vivem a instabilidade laboral na pele, como faz sentido que se juntem também para rejeitar a precariedade como modelo laboral, como modo de via, como pensamento único para o futuro.


Mas não só por isso faz sentido os estudantes estarem presente. Se a precariedade é muito de incerteza, de instabilidade, de desequilíbrio, de abdicação de sonhos, projectos, objectivos e aspirações, muitos e muitas estudantes também são precários e precárias, e também sofrem na pele o que é abdicar de uma identidade, de um projecto e sobretudo de um direito fundamental e estrutural: o direito à educação e ao conhecimento.

A precariedade não é uma estratégia homogénea e coesa que atinge todos e todas da mesma forma, com a mesma violência, com os mesmos mecanismos de dominação e de exploração e com a mesma intensidade. Mulheres são mais afectadas que os homens. Imigrantes mais que Portugueses de origem. Homossexuais mais que heterossexuais. Trabalhadoras do sexo mais que as restantes. Estudantes mais pobres, que estudantes menos pobres. Reconhecer isto não implica (nem pode nunca implicar) dividir. Pelo contrário só nos pode juntar. Ter a lucidez de perceber que o sistema nos tenta dividir só nos pode fazer ganhar a lucidez de que só juntos poderemos vencer.

Os e as estudantes fazem falta ao MayDay porque também sofrem a precariedade. A escolha da austeridade e os cortes em apoios sociais como as bolsas de estudo está já a fazer com que milhares de estudantes tenham que cancelar a matricula nas universidades e a que tantos outros e tantas outras tenham que recorrer a empréstimos bancários para poderem estudar, forçando-se desta forma o endividamento muitos antes da entrada no mercado de trabalho. E sabemos bem o tipo de trabalho que a maioria dos jovens licenciados vai ter acesso. O Estado demite-se das suas responsabilidades e oferece uma única alternativa aos e às estudantes: instabilidade, incerteza, precariedade.

Quando entre 1995 e 2005 um terço dos e das estudantes mais pobres já teve que abandonar o Ensino Superior por causa das propinas, quando com os sistemas de empréstimo os e as estudantes devem já à banca 130 milhões de euros, quando este ano milhares de estudantes estão a cancelar matriculas nas Universidades, a pergunta que se nos coloca é a de saber quantos estudantes conseguimos levar para a rua no 1º de Maio, quantas forças conseguimos acumular ao movimento social contra a precariedade…
A nossa resposta é simples: se é a precariedade aquilo que nos é comum, se é a precariedade a nossa condição comum, é contra a precariedade que nos unimos: é a precariedade que venceremos!


Texto publicado em: www.maydaylisboa.net

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