14 de fevereiro de 2011

Censura, o grito de uma geração!

Como outros, Paulo Pedroso aproveitou o espaço do seu blogue pessoal para fazer a sua análise da moção de censura apresentada pelo Bloco de Esquerda no debate parlamentar da passada quinta-feira. O hino desta moção, dizia ele em tom jocoso, é a instantânea "Parva que sou" (dos Deolinda). Pedroso talvez não se aperceba disso mas está coberto de razão.

A incapacidade do ex-deputado socialista em perceber o significado politico e social desta canção é compreensível: ela representa em toda a sua simplicidade o grito de revolta de uma geração inteira contra as políticas que insistem em roubar-lhe o futuro.

E é por isso que Paulo Pedroso a despreza, não fosse ela - por si só - um hino de censura à instabilidade permanente das nossas vidas.

Sim, esse poderia ser o hino de todos quantos querem travar as políticas de austeridade que facilitam os despedimentos, que impõem a precariedade, que atacam os direitos e o Estado social, que privatizam os bens públicos e que insistem em nos fazer pagar uma factura que não nos pertence.

Esta luta contra a austeridade e o roubo faz-se no protesto, na música, nas greves, na rua e no parlamento. E a atitude responsável que se exige a uma esquerda socialista é ser a voz consequente dessa censura popular à política e aos seus protagonistas, o PS/PSD.

Em nome da defesa do país contra a entrada do FMI, PS e PSD fizeram a maioria que aprovou o orçamento de estado e todos os PEC's. Mas foi na antecipação dessa desastrosa politica (do FMI) que juntos deixaram correr soltos os lucros dos bancos, aplicando sobre quem mais sofre o sacrifício da austeridade.

Aqui a mão que executa não se distingue da consciência que ordena. Quem empresta manda! dizem os mercados financeiros, a Alemanha, o PS e o seu cúmplice PSD. Mas quem manda lucra com os juros da instabilidade que provoca. Não há outro resultado possível do estar a mercê de quem empresta que não seja a continuação dessa instabilidade.

Ao afirmar uma alternativa ao pântano da inevitabilidade, a moção de censura do Bloco de Esquerda não vem criar nem instabilidade nem crise política. O governo e a sua política é que estão em crise e são sustentados por uma maioria PS/PSD que não merece a confiança popular e que se devora não por divergências programáticas mas por sede de poder.

Contra a política que impõe a instabilidade na vida, a esquerda exige a clarificação de posições e a devolução da palavra ao povo. Não estamos reféns do medo do papão da direita. Se antes o povo da esquerda era pressionado a limitar-se ao centro-"esquerda" para não virar à direita, agora a chantagem está entre a politica de direita do PS e a politica de direita do PSD.

"Parva que sou" é um grito espontâneo. Mas é também uma prova de que a "geração sem remuneração" está a ganhar consciência de que "esta situação dura há tempo de mais", é uma prova do falhanço da política de direita. Traduzir e dar consequência em toda a sua política à vontade de mudança desta geração e de todo o povo precarizado e explorado é a atitude firme e responsável de quem se bate pela construção de uma maioria social e de uma alternativa para o desenvolvimento do país.


Artigo publicado no esquerda.net

1 comentário:

  1. Excelente artigo!!!

    Realmente «esta situação dura há tempo de mais»

    e

    «A incapacidade do ex-deputado socialista em perceber o significado politico e social desta canção é compreensível»
    não é só ele, anda por aí muito cabrão fazedor de opinião a passear a mediocridade do pensamento neoliberal pelas rádios e televisões a distorcer o sentido denunciador e combativo da canção

    e

    «Esta luta contra a austeridade e o roubo faz-se no protesto, na música, nas greves, na rua e no parlamento»
    orgulho-me de participar no movimento revolucionário, levando o protesto às ruas, modestamente, colorindo paredes.
    Faço o que melhor sei e posso.

    Todas as setas são úteis, um dia o gigante, ferido, tombará, e o monstro capitalista vai desfazer-se no próprio sangue.

    Seremos enfim livres!!!

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