29 de setembro de 2010

Os bancos que banquem


Ainda não há muito tempo pudemos ler e ouvir o Presidente da Associação Portuguesa de Bancos a alertar para a frágil situação da banca em Portugal e para a inevitabilidade de uma redução nos níveis de crédito à economia (e aumento dos spreads). Tendência esta acentuada pelo esforço no cumprimento das novas regras internacionais em termos de requisitos de capital. Apesar de preocupantes, estas declarações alarmistas sobre a situação da banca portuguesa não parecem ter um reflexo directo no seu desempenho, a avaliar pelos lucros apresentados nos últimos meses.

É verdade que a banca tem tido dificuldade em obter financiamento no mercado interbancário. No entanto, embora os níveis de endividamento externo sejam elevados (cerca de 55% da dívida total ao exterior pertence ao sector bancário), os analistas são unânimes em afirmar que a situação real dos bancos portugueses está longe de ser desesperante. Aparentemente, mais do que por uma análise real dos seus balanços, os ratings da banca portuguesa estão a descer devido à reputação do país nos mercados internacionais. O mesmo se passa com o Estado português que, independentemente da real situação das suas contas, tem sofrido com as bolhas especulativa e de expectativas que se criaram em torno da sua solvabilidade.

Mas esta é a única semelhança entre a situação da banca e do Estado. De resto, a forma como ambos têm enfrentado esta crise, as suas responsabilidades nela e também as consequências, divergem em tudo. Por causa dos seus défices os Estados estão a implementar programas de austeridade que visam a “consolidação” das contas públicas através do aumento dos impostos, da redução de prestações sociais e dos salários. Ao mesmo tempo que os trabalhadores sofrem para pagar uma dívida que não lhes diz respeito, os especuladores internacionais apostam na falência do Estado, fazendo com que os juros da divida portuguesa aumentem e ganhando dinheiro com isso. Mais juros significam mais dívida no futuro. O aumento dos juros, que se encontram nos 6.420%, significa simplesmente que há mais especuladores a lucrar com a nossa dívida pública e que o país não está em condições de contrariar essa tendência. Prova disto mesmo é o facto de a procura de obrigações portuguesas ter excedido a oferta 4,9 vezes.

Os bancos, tal como os países, também precisam de financiamento e de se conseguir recapitalizar. A diferença é que, ao invés de ter de se sujeitar às taxas praticadas no mercado, a banca pode facilmente pedir ao Banco Central Europeu, que empresta a 1%. Como garantia pelo empréstimo concedido, os bancos podem entregar dívida pública das periferias, obrigações de empresas e até mesmo títulos hipotecários. Segundo o Expresso, a divida dos bancos ao BCE já atingiu os 30% do PIB.

Com uma parte do capital que é fornecido pelo BCE e que custa 1%, os bancos compram dívida pública, que paga juros de 6.4%, encaixando o lucro da operação. Quer isto dizer que a banca se está a encher de divida pública dos países da periferia? Não necessariamente, uma vez que, ao mesmo tempo que empresta capital, o BCE também está a comprar títulos de divida pública aos bancos (mas não directamente aos países).

Através destas operações, possíveis devido à actuação do BCE, os bancos estão a recapitalizar-se e a equilibrar os seus balanços. Existem outras formas de o fazer, que também estão a ser postas em prática: reduzir os níveis de crédito à economia, aumentar spreads e comissões bancárias e explorar ao máximo as técnicas de planeamento fiscal para pagar menos IRC (a taxa efectiva da banca, segundo a própria APB, situa-se nos 5%). Independentemente do método utilizado, fica bem claro que o ajustamento das contas da banca portuguesa também está a ser feito à custa dos impostos e dos salários dos trabalhadores e dos mais pobres. E foi esse o significado da mensagem do presidente da Associação Portuguesa de Bancos.

Uma boa noticia para os bancos nacionais é que existe ainda um outro mecanismo para melhorar os seus indicadores de capital: a redução das margens de lucro. Dói mais, é verdade, mas que doa antes a eles que a nós.

artigo publicado no esquerda.net

3 comentários:

  1. pronto grande análise
    quando os lucros sofrem baixas de 150%
    chamam-se prejuízos
    bancos quando falidos custam ainda mais dinheiro ao estado
    e o estado já não fabrica dinheiro
    como no tempo do cavaco
    e não compravas grande coisa com escudos ou com libras do zimbabué
    ou com marcos alemães de23
    e para papel de parede são feios
    e já não se usa papel de parede desde os idos de 80
    aposto que tens 12 anos
    de idade mental claro
    queu cá num sô desses

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  2. já ouviste falar duns maoistas que fomentaram a sementeira de capitalistas
    com alguns resultados
    num sistema ...jogar fora do sistema
    leva à fome de crédito
    quem mete dinheiro nos bancos com prejuízos
    só velhinhas crédulas
    pagas as contas lá em casa?
    se pagas ou és deputada ou funcionária pública
    há uma diferença mas não é muita

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  3. tentemos de outro modo

    uma casa em Dublin em 1991 custava o equivalente a 50 a 70mil moedas da 200$
    em 2004 o mesmo tipo de casa custava 400mil agora em euros

    o problema irlandês é similar no nº de casas
    mas infelizmente para eles tem menos gente que portugal

    esqueceram-se que havia mais casas que irlandeses
    geralmente dá mau resultado

    principalmente para os bancos

    127 faliram em 2010 na américa
    e acho que 2007 ainda não acabou

    há muitos milhares de postos de trabalho na banca
    pô-los na rua é capaz de não ser o melhor

    mas tu lá sabes
    não deves trabalhar em nenhum

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