27 de julho de 2010

Jogos da espionagem moderna


Um interessante artigo do jornal o Estado de S.Paulo deste domingo fala do ressurgimento da espionagem na política mundial. O jornal cita os diversos casos que vieram a público nas últimas semanas, como a troca de espiões entre E.U.A e Rússia, a libertação do cientista iraniano Shahram Amiri, seqüestrado pela CIA em 2009, ou o caso do funcionário do Departamento de Estado norte-americano condenado a quase 7 anos de prisão por passar informações a Cuba. Cenas de um filme cujo título bem podia ser “a volta dos que não foram”.

Mas o artigo diz-nos mais. Citando o McClatchy Newspapers dá conta que os gastos dos E.U.A no embate com a espionagem chinesa já superam os US$ 200 bilhões ao ano e que ele se tem vindo a desenrolar sobretudo na área da informática . Do complexo militar de Hainan, no sul da China, terão saído boa parte das 43,8 mil tentativas de espionagem informática ao Departamento de Defesa norte-americano em 2009. Mas, ao que parece, este será um problema menor do Pentágono que se debate hoje com a colossal rede de espionagem organizada nos anos Bush. De acordo com o Washington Post serão 1271 organismos governamentais e 1931 privados, ocupando 33 edifícios e empregando 854 mil pessoas, todas com salvo-conduto. Haja controleiros!

Israel, fabricante renomado de espiões topo de gama, tem avançado igualmente na massificação da sua rede de espionagem. Em 2004, a morte do então líder do Hamas, Ahmed Yassin, terá sido possível graças ao alargamento da influência da Mossad a redes de informantes locais palestianos. Mas a poderosa agência israelita tem tido alguns tropeços no que toca aos avanços tecnológicos, como o de Janeiro, que levou à identificação, a partir do uso de passaportes falsos, de seus agentes secretos que mataram um líder do Hamas no Dubai.

Política à parte, este cenário é um alívio para os amantes dos filmes de espionagem que assim ainda podem imaginar que, na sala de cinema de algum filme do 007, algum espião, gozando do seu tempo livre, vai zombando dos erros técnicos e das histórias burlescas desse e de outros projectos cinematográficos que não alcançam a emoção real e intransmissível da sua vida de agente secreto. Mas, por outro lado, não é difícil conceber a crueza e dureza do dia-a-dia das centenas de milhares de recém promovidos espiões. Como o informático que, depois de 10 horas à frente de um computador na busca fria de algoritmos e contas-corrente, pica o ponto antes de embarcar no comboio que o levará aos subúrbios ou a informante que, findo o trabalho em algum café de Beirute, baixa os olhos, triste, pela pasmaceira de mais um dia que passou e em que nada aconteceu. A esses os livros de Greene e de John le Carré com certeza se apresentam como pílulas nocturnas, que lhes embalam os sonhos repletos de intriga, mulheres misteriosas e tramas internacionais onde só deles depende o destino do mundo.


1 comentário:

  1. Gostei muito da tua abordagem deste tema, Adriano. Pobres trabalhadoras e trabalhadores da espionagem.

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